Em uma dessas tardes de sábado, resolvemos ir a caça. reunimos todos os primos, com cartucheiras de chumbinho, estilingues, e ate arco e flecha, saímos todos empolgados com o que poderíamos levar para casa aquela tarde, afinal a fauna por ali era extensa e naquela época nada era proibido, muitas pombas, preás, lebres, faisão, codornas e as vezes capivaras, descemos um longo caminho ate o rio e por ali não vimos nada, voltamos por um outro caminho e chegamos no laranjal onde as pombas ficavam algumas rolinhas faziam ninhos, sentamos embaixo das laranjeiras e ficamos chupando laranjas, e seguimos nosso caminho de mãos vazias, ate alguém ver um urubu, sim um urubu, corremos ate ficarmos próximos, e alguém atirou nele nao sei se foi com pedras ou chumbinhos, mas matamos a ave.
E agora, o que fazer, porque o dono das terras, também conhecido como meu avo, era um homem adorador da natureza, dizia que se for matar para comer, mate mas se não for para comer não faça isso, deixe o animal viver, a ideia era enterrar a ave, sumir com o corpo e com as provas daquele crime e vida que segue, infelizmente não deu tempo, como gritamos e corremos fizemos uma enorme bagunça meu avó ouviu tudo e chegou onde estávamos nos viu com o urubu nas mãos e logo foi dizendo _ leve para casa.
Obedecemos, subimos com o urubu em mãos, já com um odor horrível, chegamos na casa, ele já estava tudo pronto, o fogo no fogão a lenha alto uma vasilha com agua e uma faca na mesa ao lado. Meu avó apenas observando te nos dando ordens de como preparar o urubu, começamos a depenar, abrir para retirar a barrigada, retirar a cabeça e os pés o cheio começou a ficar insuportável os olhos lagrimejavam respirávamos pela boca. O velho dizia, alguém vai a horta pegue uma cebolinha e salsinha, tragam o sal e a pimenta. Os outros adultos do local, não reagiam a nada, ou melhor não chegavam perto tudo era comandado pelo meu avó.
Picamos a ave, colocamos juntos com os ingredientes e especiarias mesmo assim o cheiro ainda era insuportável uma mistura de lixão com esgoto, a panela começou a borbulhar e uma gosma se formava em cima daquela carne putrefata e eu pensando, como irei comer isso.
E um determinado momento, escutamos uma voz, tire do fogo, caramba, vamos ter que comer isso, pensei. Então aquele voz disse novamente, peguem isso façam um buraco perto da cerca e enterrem bem fundo e uma próxima vez que matarem irão comer ate as penas.
Sensação de alivio...
Nunca mais matamos o que não iriamos comer.
Daqui um dias eu volto com mais lembranças dessa época.
